Ciencia Capilar, Historia Capilar

Uma Viagem Milenar: Desvendando a Fascinante História dos Cuidados Capilares 

O Espelho da Alma e da História 

Desde os primórdios da civilização, os cabelos transcendem a mera função biológica de proteção. Eles se revelam como uma tela em constante transformação, onde se pintam identidades, status social, crenças religiosas e os próprios ideais de beleza de cada época.

Mais do que fios que adornam a cabeça, os cabelos são um espelho da alma humana e um fio condutor que nos permite viajar pela rica e complexa tapeçaria da história. Embarcar na jornada dos cuidados capilares é, portanto, mergulhar nas profundezas das culturas que nos precederam, desvendando rituais ancestrais, inovações surpreendentes e a incessante busca humana pela expressão e pelo embelezamento.

Neste artigo, convidamos você a percorrer essa linha do tempo fascinante, desde as primeiras manifestações de cuidado na pré-história até os elaborados penteados que marcaram civilizações antigas, compreendendo como nossos antepassados moldaram não apenas seus cabelos, mas também suas sociedades e percepções sobre o belo.

Os Primeiros Fios da História: Cuidados na Pré-História e o Despertar da Consciência Capilar 

Embora os registros sejam escassos e fragmentados, a história dos cuidados capilares remonta a tempos imemoriais, muito antes das pirâmides do Egito ou dos templos da Grécia Antiga. Evidências arqueológicas, como estatuetas e pinturas rupestres, sugerem que mesmo nossos ancestrais mais remotos já atribuíam significado aos seus cabelos.

A descoberta de figuras como a Vênus de Willendorf, datada de aproximadamente 25.000 a.C., com seus cabelos meticulosamente arranjados em fileiras ou tranças, indica uma consciência estética e talvez ritualística ligada aos fios. Alguns estudos apontam para a existência da prática de trançar os cabelos há cerca de 30.000 anos, uma técnica que perdura até hoje, carregada de simbolismos culturais em diversas comunidades.

Nos primórdios, contudo, a principal motivação para intervir nos cabelos era puramente prática. Fios longos e desgrenhados representavam um obstáculo nas tarefas diárias, na caça e na coleta.

A solução era rudimentar: o excesso de cabelo era aparado com o auxílio de ferramentas líticas afiadas, como facas de pedra lascada, ou simplesmente chamuscado pelo fogo. Essas intervenções iniciais, focadas na funcionalidade, lançaram as bases para uma relação mais complexa e simbólica com os cabelos, que floresceria com o advento das primeiras civilizações e o desenvolvimento de uma consciência mais apurada sobre higiene, beleza e identidade.

O Esplendor do Nilo: Cabelos e Rituais no Antigo Egito 

Nenhuma civilização antiga dedicou tanta atenção e simbolismo aos cabelos quanto o Egito. Nas margens férteis do Nilo, os cuidados capilares transcendiam a estética, entrelaçando-se com a religião, o status social e até mesmo a medicina.

Um cabelo bem cuidado, brilhante e artisticamente arranjado não era apenas um adorno, mas um reflexo da ordem cósmica (Ma’at) e um indicativo da posição do indivíduo na hierarquia social. A primeira receita médica escrita conhecida, datada de cerca de 4000 a.C., destinava-se justamente ao tratamento da calvície, um problema que preocupava até mesmo a realeza.

A iconografia egípcia, presente em túmulos, papiros e esculturas, revela uma rica variedade de estilos. O clássico corte “bob” de Cleópatra, liso, preto e na altura dos ombros, com uma franja reta, tornou-se um símbolo duradouro, mas não era a única moda.

Penteados curtos no estilo pajem também eram comuns, assim como o uso de microtranças que cobriam toda a cabeça ou serviam como delicados adornos. A cor predominante era o preto intenso ou o castanho escuro, obtido através da aplicação de hena, uma planta cujas propriedades corantes e condicionantes eram amplamente conhecidas.

As perucas desempenhavam um papel central na cultura capilar egípcia, especialmente entre a elite. Feitas de cabelo humano, fibras vegetais ou lã de ovelha, elas não eram apenas um acessório de moda, mas também uma forma de proteção contra o sol escaldante e os piolhos.

Além de serem um claro símbolo de status, homens e mulheres de posses ostentavam perucas elaboradas, frequentemente adornadas com missangas, fitas coloridas e até pó de ouro. Curiosamente, enquanto a elite se esmerava em penteados e perucas, os trabalhadores braçais frequentemente raspavam completamente a cabeça.

A Arte Clássica na Cabeça: Penteados e Filosofia na Grécia Antiga 

Na Grécia Antiga, berço da filosofia e da democracia, os cabelos também eram elevados a uma forma de arte, refletindo os ideais de harmonia, proporção e beleza natural tão caros a essa cultura.

Diferente da rigidez e da opulência egípcia, os gregos valorizavam penteados que realçassem a beleza intrínseca dos fios, muitas vezes mantendo suas cores naturais. Os penteados eram vistos como uma extensão da própria pessoa, uma expressão de sua individualidade e, frequentemente, de seu status social ou papel na sociedade.

As mulheres gregas, em particular, dedicavam tempo e esmero aos seus cabelos. Penteados elaborados, com madeixas finas e cuidadosamente entrançadas, eram a norma.

Coques complexos, presos na nuca ou no topo da cabeça, eram populares, como o lampadion, que, como o nome sugere, tinha a forma de uma lamparina a óleo. O chamado penteado de “deusa glamorosa”, com ondas suaves e fios parcialmente presos, evocava a imagem das divindades do Olimpo.

A inovação também marcou os cuidados capilares na Grécia. Foi em Atenas que surgiu a primeira “Academia de Cabeleireiros”, um local dedicado ao ensino e à prática da arte de pentear.

Os gregos desenvolveram o calamistrum, um instrumento de metal aquecido em brasas, considerado o protótipo dos modeladores de cachos modernos. Com ele, transformavam cabelos lisos em ondas e cachos definidos, que se tornaram extremamente populares, usados soltos ou semi-presos.

O Império Romano, conhecido por sua vasta extensão territorial e pela assimilação de diversas culturas, refletiu essa diversidade também em seus penteados.

Ao contrário da relativa uniformidade egípcia ou do idealismo grego, a moda capilar romana era mais eclética e pragmática, buscando adaptar os estilos às características individuais e às necessidades do cotidiano.

O Império Romano, conhecido por sua vasta extensão territorial e pela assimilação de diversas culturas, refletiu essa diversidade também em seus penteados. Ao contrário da relativa uniformidade egípcia ou do idealismo grego, a moda capilar romana era mais eclética e pragmática, buscando adaptar os estilos às características individuais e às necessidades do cotidiano. A praticidade convivia com a elaboração, e as tendências variavam consideravelmente ao longo dos séculos de domínio romano. 

Nos primeiros tempos da República e durante o Império, as mulheres romanas demonstravam uma preferência por penteados que, embora pudessem ser complexos, muitas vezes visavam manter os cabelos presos e fora do caminho.

Coques apertados no topo da cabeça, que lembravam a forma de um pretzel, eram comuns. No entanto, com a expansão do Império e o aumento da riqueza, especialmente entre as classes mais altas, os penteados femininos tornaram-se progressivamente mais elaborados e esculturais.

Os homens romanos, por sua vez, geralmente preferiam cabelos curtos e penteados de forma simples. A barba, popular na Grécia, foi gradualmente abandonada pelos romanos, que preferiam o rosto barbeado, embora tenha retornado à moda em períodos posteriores do Império.

A profissão de cabeleireiro era bem estabelecida em Roma, com profissionais conhecidos como tosores e ornatrices atendendo a clientela em estabelecimentos públicos ou nas casas dos mais abastados.

Os cuidados capilares envolviam o uso de pentes de osso, marfim ou metal, e óleos para dar brilho e maciez. A coloração também era praticada, com as mulheres romanas utilizando uma variedade de substâncias para tingir os cabelos, incluindo sabões cáusticos importados da Gália para clarear os fios.

A diversidade de estilos e a existência de profissionais dedicados demonstram a importância que os cabelos assumiram na sociedade romana, refletindo não apenas a moda, mas também o status social e as influências culturais que moldaram o vasto império.

Referências: 

[1] Jean Louis David. Hair story: história dos tratamentos capilares. Disponível em: https://jeanlouisdavid.pt/jldmag/hair-story-historia-dos-tratamentos-capilares/?srsltid=AfmBOoq6oV2Th1MLqz7LaweRRf7NvLgXlZ7wT1eMku_ruzEON1j0NOYJ

[2] Nanoil Blog. A História do Cabeleireiro. Parte 1: Que Estilos de Penteado Estavam na Moda na Antiguidade?. Disponível em: https://nanoil.pt/blog/post/a-historia-do-cabeleireiro-parte-1-que-estilos-de-penteado-estavam-na-moda-na-antiguidade

[3] A história dos cabelos – Salão Pura Beleza. Disponível em: https://www.salaopurabeleza.com.br/single-post/2017/07/14/a-hist%C3%B3ria-dos-cabelos

[4] A História do Cabelo | Royal.d. Disponível em: https://royald.com.br/o-cabelo-e-sua-importancia-durante-a-historia-da-humanidade/?srsltid=AfmBOooBVPmEm5Cdamqg8gHJLeQ4mJeCtVib_1J-AT3tDdlkFBUahknc

[6] Penteados: da antiguidade aos dias atuais | Cursos a Distância CPT. Disponível em: https://www.cpt.com.br/cursos-salaodebeleza/artigos/penteados-da-antiguidade-aos-dias-atuais 

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